Dezembro de 2025 – Da série curiosidades sobre o Comex: hoje falamos da famosa Kombi aqui no Brasil! Quem nunca andou em uma Kombi? Quem não gosta de carro antigo? Enfim, a maioria de nós brasileiros adoramos carros antigos porque eles nos trazem memórias afetivas fantásticas e também porque contam bastante história – vocês já imaginaram tudo o que esses carros passaram e o que as pessoas já passaram nestes carros?
Bom, com o comex não é diferente porque todo mundo que trabalha com comércio exterior e também com T.I sempre tem alguma(s) história(s) muito engraçadas e carregadas de aprendizado e experiência para contar e quando ligamos os pontos sobre esses dois ícones dos profissionais brasileiros – a VW Kombi e o Comex – o cognitivismo “buzina” na nossa cabeça porque a famosa Kombi ajudou a moldar o Comex no Brasil, traduzindo com muita força a sensação de quem importa, exporta e produz!
Poucos veículos representam tão bem a formação do parque automotivo brasileiro quanto a Kombi que é um ícone cultural, utilitário resistente e símbolo de uma indústria que aprendeu produzindo esse querido utilitário que acompanhou o Brasil em todas as fases: da importação e montagem via CKD ao crescimento da manufatura nacional, das exportações sob demanda às transferências globais de tecnologia, de motores e até de maquinário industrial.
Mais que um veículo simpático, a Kombi é um espelho da evolução do Comex brasileiro por isso apresentamos a seguir um panorama histórico que entrega como esse modelo ajudou a integrar o país à economia do restante do mundo:
1. CKD: Quando o Brasil montava para, depois, aprender a fabricar
Em 1950 a Kombi chegou no Brasil em regime de CKD (Completely Knocked Down) – totalmente desmontada, vinda da Alemanha, e montada localmente em São Bernardo do Campo, na fábrica da Anchieta, permitindo:
1.1. Reduzir custos tributários e barreiras de entrada;
1.2. Iniciar a produção local com menor investimento – além de “testar” o mercado brasileiro;
1.3. Treinar mão de obra brasileira;
1.4. Absorver tecnologia e criar fornecedores nacionais.
Na prática, a Kombi foi uma das “escolas” do Brasil industrial: um verdadeiro case de como o comércio exterior acelerou a indústria brasileira, além de ter ajudado muitas outras indústrias porque a Kombi foi um dos veículos mais usados para transportar e entregar mercadorias!
2. Kombis a diesel: produzidas no Brasil e vendidas para o mundo
Poucos lembram, mas o Brasil produziu versões a diesel da Kombi – quem dirigiu, sabe – e o fato é que essa demanda por mercados internacionais, onde esse combustível era mais popular ou mais barato acabou criando versões que rodam aqui nas estradas e ruas brasileiras, mas também foram exportadas.
Esse movimento mostrou a maturidade crescente da VW no Brasil como indústria exportadora porque adaptou produtos a mercados-alvo, necessidade básica para o Comex!
3. Caravelle: a sucessora importada que não encontrou seu espaço
Com a evolução da Kombi no exterior, a VW trouxe modelos mais sofisticados, sob o nome Caravelle, mas elas nunca embarcaram no gosto do brasileiro porque tinham
3.1. Custo de importação mais alto;
3.2. Manutenção mais cara;
3.3. Pouca aderência com o brasileiro que buscava a simplicidade prática da Kombi nacional “clássica”.
É um caso claro de como nem sempre um produto importado encontra “fit” no mercado – mesmo quando vem da própria fabricante – e é uma evolução natural do modelo que já era parte da cultura nacional.
4. Drawback, VW e o México: Kombis brasileiras com motor AP 1.8 refrigerados à água
Um dos capítulos mais legais do Comex automotivo envolve a Kombi produzida no Brasil e exportada para o México porque a legislação Mexicana exigia motores refrigerados a água antes mesmo de o Brasil adotá-los internamente e com isso a VW brasileira desenvolveu Kombis com motor AP 1.8 refrigerados à água exclusivamente para exportação, produzidas sob regime de Drawback, ampliando competitividade e reduzindo custos, enquanto o mercado brasileiro só teria motores refrigerados a água mais tarde – numa versão 1.5.
Criando o perfeito exemplo de produção sob demanda para mercados internacionais, uma dinâmica central na indústria automotiva global.
5. Teto alto e motores a água: a influência direta das linhas mexicanas
Na fase final, surgiram no Brasil versões de teto elevado e motores a água com engenharia derivada das unidades mexicanas, tendo como hipótese que parte do ferramental e maquinário foi transferida do México para o Brasil – uma prática comum em multinacionais, que realocam linhas conforme o ciclo de vida dos produtos em determinados mercados, evidenciando a transferência internacional de tecnologia, logística global de máquinas, e o papel estratégico do Brasil dentro da operação mundial da Volkswagen.
6. Exportações históricas: quando a Kombi brasileira virou item de colecionador
O Brasil foi o último país do mundo a produzir algumas versões clássicas – como a lendária Kombi “Corujinha”, abastecendo a Europa, Oceania e Américas durante anos e hoje, essas Kombis brasileiras são celebradas por colecionadores internacionais, em um caso raro de um veículo de baixa tecnologia que ganha alto valor agregado ao final de sua vida industrial, como um item de colecionador graças à sua autenticidade histórica.
7. Volkswagen do Brasil: um hub exportador global
A participação da VW no comércio exterior brasileiro vai muito além da Kombi porque suas plantas desempenharam papéis essenciais como:
7.1. Na planta da Anchieta (SP) por causa do marco histórico da Volkswagen no Brasil; da produção em larga escala desde os anos 1970; e de exportações constantes de veículos e componentes.
7.2. Na planta de São José dos Pinhais (PR) – também chamada de BUC (Business Unit Curitiba) – como um símbolo da modernização industrial, responsável pela produção de Golf e New Beetle que eram referência global da marca no início dos anos 2000, incluindo exportações para diversos continentes.
Essas plantas consolidaram o Brasil como um importante player do supply chain automotivo global!
8. O caso Santana: quando o Brasil exportou tecnologia para a China
Um dos episódios mais marcantes, envolve o VW Santana, uma evolução brasileira do Passat. Sim, para quem não sabe o Santana era uma versão atualizada do Passat que foi vendida no Brasil com outro nome, criando uma competição entre as duas versões do mesmo carro e que a parte mais curiosa é que quando saiu de linha aqui no Brasil, todo o maquinário de produção foi exportado para a China, onde o modelo continuou sendo produzido por muitos anos.
Criando um case de reaproveitamento global de ativos industriais, extensão de ciclo de vida de produto e transferência de tecnologia brasileira para outro polo automotivo, onde poucos países emergentes tiveram papel tão relevante nesse tipo de operação.
9. O futuro: peças importadas e customização que atravessa fronteiras
Hoje, a exportação de Kombis do Brasil e a importação de peças ganha mais um capítulo e um novo status: a cultura automotiva.
Proprietários brasileiros importam lanternas, painéis, bancos, acessórios, kits estéticos, vindos de Alemanha, México e outros países para “europeizar” ou “mexicanizar” suas Kombis nacionais, ou seja, puro Comex, só que motivado pela nostalgia e pela identidade cultural.
O fato é que quem não gosta de Kombis (e seus derivados), não gosta de Beatles, não gosta de crianças, não gosta de cachorros e não tem nenhum amigo, boa pessoa não é porque a Kombi é um capítulo essencial da história do Comércio Exterior no Brasil, revelando muito mais do que a história de um veículo popular, mas sim a formação industrial via CKD, o amadurecimento dos regimes aduaneiros, a construção da global supply chain com exportações estratégicas, transferência internacional de tecnologia e maquinário, adaptações culturais e de mercado, ou seja, a Kombi ajudou o Brasil a aprender, produzir, exportar e, principalmente, a se integrar à economia global.
Se hoje o país ocupa posição relevante na cadeia automotiva mundial, é impossível contar essa história sem passar pelo utilitário mais simbólico que já rodou nossas ruas – a nossa querida Kombi, também chamada carinhosamente de Kombosa, Kombinha, entre outros apelidos!
www.digicomex.com
Artigo originalmente publicado em: https://www.linkedin.com/pulse/o-que-kombi-tem-ver-com-comex-alexandre-gera-hncif/
